VAI CHOVER: O COLDPLAY TROUXE AO BRASIL UM SHOW PARA POUCOS

E choveu mesmo! São Paulo, 26 de fevereiro, e no final da tarde a chuva já caia. Um dilúvio digno de alagamentos, trânsito caótico e da primeira frase em português daquele que personifica o Coldplay, o vocalista Chris Martin: “Urra meu, que chuva!” – a galera grita! “Que PUTA chuva!” – a galera vai à loucura!
Alguns minutos antes do show começar, os telões do Via Funchal já exibiam um Warning Sign: “A pedido da produção do artista: O show do Coldplay não será transmitido nos telões.” E realmente, para quê telão? Tratava-se de um teatro, cheio de cadeiras postas (também por exigência da produção) com o intuito de fazer justamente um show mais intimista. Eram apenas 2.700 privilegiados. E mesmo aqueles com ingresso mais barato (Platéia Lateral - R$150,00 reais. Sim, esse era o mais barato!) tinham uma visão mais do que nítida de Chris Martin e seu piano elétrico!
Elétrico! Talvez seja este o mais apropriado adjetivo para descrever o estado emocional da banda. Os sintetizadores do comecinho de “Square One” representavam os tambores rufando. Começava o show! O público a essa hora já nem se lembrava das cadeiras vermelhinhas e acolchoadas logo atrás. Alguns mais afoitos lotaram os corredores e o que pagou 200 se misturou com o que pagou 300, e o que pagou 150 se misturou com o que pagou 200 e por aí foi. Brigas? Não. O único momento que deixou á flor da pele aqueles que pagaram mais pelo ingresso, foi quando a banda, na íntegra, desceu do palco em direção à Platéia Lateral. Sim, aquela que pagou “apenas” 150 reais. Foi durante “Til the Kingdom Come”, a 11ª música do show, interpretada com voz, violão, risadas e muitos flashes das 1001 câmeras digitais que iluminavam a já iluminada banda britânica.
Mas voltando à ordem cronológica, “Square One” – a primeira da noite -, foi marcada não só pelo lindo coro que encerrou a música, mas também pelas luzes que acompanhavam mais do que sincronizadamente as baquetadas do baterista Will Champion nos pratos de ataque. Remédio para olhos e ouvidos! “Politik” já veio emendada disparando mais luzes (muito mais luzes!) e o coração da platéia já em transe! Cada um da banda parecia estar jogando em seus respectivos instrumentos toda sua força na que parece ser a música mais estridente da banda hoje rotulada como a nova salvação do rock. Opiniões á parte, mas “Politik” foi até então a melhor música de rock tocada neste país desde o começo do ano que, diga-se de passagem, já recebeu algumas outras atrações internacionalmente barulhentas.
Paradinha para um “Obrigado!” aos brasileiros que se derretiam com aquele sotaque britânico, e depois um “Muito Obrigado!” para gritos femininos, claro. No momentâneo silêncio de expectativa “Meu Deus, qual será a próxima música?”, Chris Martim pega sua guitarra, cor branca e som a lá bandolim e arranca palmas, assovios e “uhuuuus” com os primeiros acordes de “Yellow”. E quando todos arrebentavam suas gargantas canta-gritando “Look up the staaaaars, look how they shine foooooor youuu”, no céu do Via Funchal via-se não estrelas, mas vários e enormes balões coloridos que pulavam de platéia em platéia enfeitando o que ali deixava de ser um show e virava um espetáculo. Aliás, o que era uma apresentação, virou na verdade um Carnaval. Mas pra fechar mais uma música com chave-de-ouro, Chris Martim jogou e fez voar junto com os balões, sua linda guitarra-branca-bandolim para, é claro, nos lembrarmos que o país é de carnaval, mas o show é de rock!
Em seguida, Deus colocou aquele sorriso no rosto do público que já ouvia “God Put a Smile Upon Your Face”, a quarta música do show. Descansando a guitarra e pegando um violão com afinação específica, a banda fez todo mundo acompanhar com palmas a batida da música de raízes country que começava a tirar todo mundo não mais das cadeiras, mas agora do chão. “Speed of Sound” era o que todos precisavam pra definitivamente voar com os pássaros do primeiro single de X & Y – disco que levou à essa turnê (Twisted Logic) 6 de suas 12 músicas.
E para descansar e finalmente levar o público a parar pra admirar a música, suposto objetivo da banda ao descartar multidões em estádios, veio a primeira balada da noite: “Trouble”. Nesta música, ao invés de impactar o público com as lindas e iniciais notas de piano, Chris Martin resolveu começar pelo fim dando coro ao público que soltou a voz e arrepiou a alma.
Em seguida veio “Sparks” que o público também cantou na íntegra, mas que ficou marcada mesmo pelo guitarrista Jon Buckland que tomou de Chris Martin o banquinho do piano e assumiu o instrumento simultaneamente com sua guitarra – lembrando-nos que o Colplay é sim muito mais do que só o maridão de Gwyneth Paltrow.
Pra quebrar a seqüência “balads”, nada mais nada menos que “Daylight”. Agora todos cumprindo suas respectivas funções: Guy Berryman, seu baixo e seu bigodão, fazendo a base; Will Champion, mais do que firme na batera; Jon Buckland “slideando” sua guitarra, Chris Martin de volta ao piano; e na voz e percussão: 2.700 desvairados gritando e batendo palmas, muitas muitas palmas.
“White Shadows” veio logo na seqüência trazendo ainda mais barulho ao Via Funchal. Se antes o público cantava e batia palmas, nesta música todo mundo resolveu pular, e pular e pular. Talvez prevendo o cansaço do público (e do próprio Chris Martin que a essa altura já tinha corrido certamente o equivalente a umas 10 voltas no Maracanã), nada melhor do que sentar em seu banquinho e mandar a esperadíssima “The Scientist”. Um dos maiores sucessos da banda, a música fez o público dar férias aos pés, mas muito trabalho às cordas vocais que não pararam nem desafinaram um segundo sequer. Foi um dos momentos mais bonitos do show!
Depois, para deixar o público ainda mais boquiaberto, Chris pegou um violão; Buckland e Barryman outro (cada um e respectivamente); e Will Champion, o único que eu achava não saber tocar gaita, pra me contradizer pegou justamente uma (how cute!) e mandou bala! No palco? Não, não... Ali no corredor da tal Platéia Lateral. Como já dito, eles desceram, juntinhos, em filinha indiana e mandaram “Til Kingdom Come”. E subindo nas cadeiras (quem obviamente não estava na maldita Platéia Lateral. P.S: Já deu pra perceber que eu não estava, né?), o público foi literalmente às alturas! Pegando o bonde, a banda também subiu de volta ao palco e ainda no estilo “unplugged” emendou “Love me Tender”. ‘MARAVILHOSO’ - Chris Martin disse... e eu concordo!

“Talk”, esta foi a música encarregada de não deixar a peteca cair. E como você já deve imaginar, não deixou mesmo! Além de ser um single, suas variações sugam cada instrumento dando à melodia vários momentos marcantes dentro de uma única música. Assim, atende à lógica matemática que agrada ao mesmo tempo público e crítica. Ponto pros britânicos: ”Talk” deu o que falar!
Uma pausa pro velho e necessário break que não sei dizer se durou pouco porque eles não demoraram, ou porque o público não esfriou gritando forte e continuamente “Shiver, shiver, shiver!”. E então eles voltam, com a l-i-n-d-í-s-s-i-m-a “Swallowed in the Sea” que no seu estilo progressivo foi agradando gradativamente a platéia: primeiro lenta, depois forte e aceleradamente. Na seqüência: “Tum, pá, tum tum tum pá; tum, pá, tum tum tum pá” – sim, era a bateria de “In my Place” levando todos à loucura. O público sequer esperou a guitarrinha clássica do começo pra começar a gritar! Se antes a palavra era ‘Maravilhoso’, Chris Martin dessa vez disse ‘Fantástico’ – a banda além de tudo ainda conta com uma boa assessoria, pois não havia realmente melhor palavra pra descrever o momento.
Mas como tudo que é bom dura pouco, chegou a última (que depois virou penúltima) música. Todas as luzes se apagaram, e no palco via-se apenas uma espécie de lampião que desceu do teto e, amarrado numa corda, ficou ali paradinho iluminando Chris e seu piano. Quando a guitarra assumiu o final da música, Chris apenas se levantou e girando em volta de seu próprio eixo, rotativizou aceleradamente o tal lampião dando ao momento um efeito daqueles. A coisa ficou ainda mais bonita, quando o lampião foi lançado e passou a girar não só em torno de Martin, mas entre o palco e o público, com se levasse um ao outro e vice-versa. Foi LINDO! Mas era a última. Ou melhor, era pra ter sido a última, se o povo não tivesse parado de gritar “Shiver shiver shiver!” incansavelmente. “Nunca vi pedirem tanto essa música”, voltou e disse Chris depois de uns 3 minutos no “backstage” ouvindo aquela barulheira. De muito bom-humor, ele e Buckland pareciam nem lembrar como se tocava a música, mas mesmo assim, entre letra e risadas, deu ao público brasileiro o que nenhum argentino, chileno ou sei lá quem teve: ARREPIO (Leia-se Shiver).
Sem maiores comentários, mas o U2 que se cuide!
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